quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Setembro sem carro - dia 17

Bicicleta. Amanhã começo a incluir a bicicleta como mais um cipó, digo, mais um meio de transporte para me deslocar por São Paulo. Tem muito conteúdo interessante pela internet tratando de roteiros, dificuldades, testemunhos, conselhos, onde estacionar, como se precaver de acidentes e roubos, etc. No momento tudo que preciso é comprar uma bicicleta. Os próximos dias deve ser recheados de conversas com amigos ciclistas e logo virão os primeiros registros visuais pela cidade. Devo optar por uma bicicleta montada. Ela é um pouco mais cara mas é ajustada sob medida: altura do quadro, peso, tipo de roda, freio e cambio.

Primeiro balanço. Nas conversas em torno da experiência de ficar sem carro por um mês percebi que deixar o hábito de usar o carro requer uma mexida em uma porção de crenças, idéias, comportamentos e na própria relação com a cidade. É como parar de fumar. Todo fumante sabe que faz mal, que deveria parar mas é um hábito encrustrado e com raizes profundas. Largar o carro é um exercício de desapego que tenho encarado menos como um sacrifício e mais como um jogo, uma experiência lúdica.

Prós e contras.

Alguns argumentos que protegem o uso do carro como meio de transporte preferido:

1. uso sozinho e decido quando ir e quando voltar sem depender de ninguem
2. me sinto seguro e protegido dentro dele.
2. é confortável, posso ouvir música e abstrair o barulho de fora fechando os vidros.
3. se tiver ar condicionado, não importa o tempo lá fora, chuva ou calor, dentro esta sempre fresquinho.
4. não sinto cheiro e não tenho contato com pessoas, ou seja, é mais higiênico.
5. defino a velocidade que quero (mais ou menos, né?)
6. dá status e é algo que está ligado a minha identidade, meu jeito de ser (adventure, stile, mille, ecosport, classic, off-road, etc)
7. é facil de financiar em parcelas pequenas por 5 anos.

O que mais?

Argumentos que fortalecem a opção pelo não-uso do carro como meio de transporte principal:

1. contribui para congestionar a cidade e polui o ar.
2. é irracional uma tonelada ou mais para transportar na maioria das vezes uma só pessoa
3. tem um alto custo de manutenção: IPVA, seguro, estacionamento e combustivel
4. isola o usuário do convívio com outras pessoas
5. alimenta o círculo vicioso que pede mais investimento na malha viária da cidade: pontes, marginais, avenidas, estacionamentos.
6. contribui para o sedentarismo e a acomodação.
7. estressa o usuário por vários motivos: segurança, engarrafamento, transito caótico, motoqueiros, radares, etc.

O que mais?

Hoje percebo uma boa sensação de maior independência da necessidade de usar o carro. Vou voltar a usá-lo em breve mas com certeza de um outro jeito. Talvez passe a usá-lo 10 vezes menos do que usava anteriormente. Quero te-lo como meio disponível entre outros como caminhar, ir de ônibus, de metro, de trem, de carona, de bicicleta e de taxi. Talvez venha a usá-lo somente nos finais de semana para algum programa com a familia toda, um passeio ou viagem.

Dia 16 - 19h00 - Com Daia e Joaquim Freitas, na Pro-Matre

Dia 16 - 21h00 - com alunos na Palas Athena

Dia 17 - 13h00 - com Felipe e George Winnik na reunião do IRBEM

Dia 17 - 14h00 - Cemitério da Consolação


Dia 17 - 17h30 - Corredor de onibus da av. Rebouças

6 comentários:

Daia Mistieri disse...

Zé,

quero registrar aqui que a experiência que tive em te acompanhar até o Pro-Matre dia 16 foi muito rica pra mim. Conheci um ponto de ônibus pertinho da nossa casa, num lugar com árvores e que corta a USP, sem trânsito.
Estou aqui com meus pensamentos e fazendo alguns novos planejamentos como, por exemplo, vir trabalhar de ônibus a mairo parte dos dias a minha semana. É possível.

Quero deixar registrado aqui que sua experiência está motivando mais pessoas a deixar o conforto do carro e isso é muito bonito.

Bonito ver um ser humano pensando também no coletivo, além claro, da própria saúde.

Vamos que vamos. Você me inspirou. Obrigada

Beijos

José Bueno disse...

Daia querida,
Para mim também aquele ponto da USP é uma surpresa. Incrível, não? Por lá passam linhas que levam para a maioria dos lugares que frequentamos. E ver o mundo com os olhos do carro limitam a percepção de ver o mundo com olhos mais abertos.
Foi muito legal visitar o Joaquim na Pro-Matre, encontrá-la mais tarde na Palas, jantar pela Paulista e voltar de metrô.
Beijos

Felipe Fagundes disse...

Grande Zé! Está sendo uma experiência interessante andar contigo por Sampa. É bom saber que podemos pertencer à rua, ocupá-la com boa intençao. Prestar atençao nas coisas é uma arte que perdemos com o crescimento dos muros e com os filtros dos carros. Felipe

José Bueno disse...

Felipe meu amigo
Conversava hoje com o Antonio Goper no Dojo e falávamos das coisas públicas. Abandonamos as escolas públicas, os hospitais públicos, o transporte público e agora estamos abandonando as ruas que parecem servir apenas para ir e vir de carro, e não mais para andar. Se não ocuparmos as ruas logo logo ela vai ser exclusiva para circulação das pessoas pobres que lotam os hospitais e onibus públicos. Foi muito agradavel subir a Consolação com vc e almoçarmos juntos na rua. Abração.

Danilo disse...

Legal o vídeo com os carros ficando pra trás...

José Bueno disse...

Pois é, Danilo.
A imagem dos carros "ficando para trás" é quase uma metáfora.