sábado, 29 de agosto de 2009

Setembro sem carro.

Ninguém precisa dizer que o trânsito em São Paulo caminha para o colapso. A av. Rebouças, entre outras, tende a um estacionamento gigante. Como nos Shoppings, imagino o dia que haverá uma cancela na entrada e outra na saída computando quanto tempo ficamos parados. Uma hora? Uma hora e meia? Duas horas? Usando o corredor de ônibus percebe-se uma multidão de pessoas solitárias e presas em seus carros. No Morumbi a cena é mais bizarra. Carros imensos entopem as avenidas e ruazinhas do bairro. Solidão chique encalacrada no mesmo engarrafamento diário. E as placas da CET pelas marginais devem rir de nós enquanto anunciam: 120 km de transito lento. 150 km. 200 km!

Ontem circulei de carro, de metrô e andei bastante a pé. Localizei um sentimento novo relativo ao uso do carro na minha cidade: VERGONHA. Senti vergonha em usar meu carro na cidade. Vergonha de ser visto ocupando um espaço imenso nas ruas e avenidas. Vergonha de poluir. Vergonha por ser um engarrafador de transito. Vergonha ao me perceber como causador do caos na cidade em que vivo.

Decisão: em setembro deixo meu carro na garagem para viver a vida na cidade a pé. Não vou me desfazer do carro nem deixar de usá-lo caso seja urgente. Mas quero aceitar o desafio de despoluir, de desengarrafar e de desapegar de um hábito grudado ao paulistano da classe média.

Por aqui vou registrar o dia a dia da experiência. Cada descoberta, frustração, buraco, diversão, encontros, cheiros, barulhos e imagens de um pedestre. No final do mês, dia 30/09, encerro a experiência de viver 30 dias sem usar o meu carro.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O pincel e a espada - um só caminho



Ontem à noite comecei novo projeto Bun Bu Ryo Do - Aikido e Sumi-e - na Palas Athena. Entre os presentes inúmeras sincronicidades e aquela sensação boa de estar no lugar certo com as pessoas certas. Outras pessoas se juntarão ao grupo na próxima semana para a decolagem sobre papéis e tatames.

De Recife recebi o texto abaixo enviado por Wilson Tenório, amigo e aluno, que enriquece a compreensão sobre o significado da aproximação do pincel e da espada. Aprecie.

Por longos tempos os samurais viveram em guerra. Tempo suficiente para embrutecê-los, tornando-se homens rudes e cruéis. A partir do século XIV passaram a se dedicar a atividades culturais, conforme as novas regras estabelecidas pelo shogunato Tokugawa que agregou muitos conceitos do confucionismo. Muitos inspiravam-se em um antigo ditado que dizia: “Bun Bu Ryo Do” [文武両道 - literatura e arte marcial em sintonia]. O samurai Taira Tadanori [平忠度], fato presente conto Heike Monogatari [平家物語] foi um dos que seguiu esse mandamento e ficou famoso também pelo seu talento com as palavras. Outro samurai bastante conhecido, se não o mais importante de todos, o Miyamoto Mushashi faz referências sobre a pintura e a espada convergindo os movimentos evidentes em ambas as artes em seu livro “os cinco anéis”.

domingo, 23 de agosto de 2009

Feijão com Choro 2


Ontem reunimos amigos e amigas na Vila Indiana para fazer umas das três coisas boas da vidas: comer uma comida bem feita, conversar com pessoas de bem e ouvir boa música.

A feijoada deliciosa, com direito a uma panela especial para os vegetarianos, ficou por conta da Maria e da Zilda. A Maria é uma cozinheira de mão cheia, adora o que faz e é presença garantida nas próximas aventuras gastronômicas.

As pessoas de bem são os nossos amigos e amigas de muitos lugares: da FAU, do Dojo Harmonia, do Instituto Ethos e do ISA, do Morro do Querosene, da SOL, da Palas Athena e da família Marinho.

A boa música foi um presente dos meninos do choro. Meu filho Daniel - que também atende por Donizete ou apenas Doni, tocou o sete cordas de Gabriel, que tocou seu cavaquinho entre a flauta da Bia e os saxes (!) do Edu e do Marcio. João Serfozo se juntou ao Kyo para fazer a percussão no segundo pandeiro.

Um saboroso sábado em todos sentidos. Aguardem o próximo.









segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aikido e Sumi-e no SESC




Em 2007 uma coordenadora de eventos do SESC - Satie Watanabe - visitou a exposição "Aikido - Harmonia em Ação" no Centro da Cultura Judaica e tomou contato com a dimensão socio-educativa do Aikido. Eram fotos e vídeos que mostravam o Aikido como forte aliado na construção de uma cultura de harmonia e convivência pacífica junto a públicos e ambientes diversos: com lideranças em empresas, com crianças e jovens em comunidades da periferia de São Paulo, com israelenses e árabes em ambientes marcados por conflitos étnicos, religiosos e políticos e com cidadãos comuns em praças e parques celebrando a utopia da harmonia.

Meses mais tarde, Satie me convidou para oferecer um programa de Aikido para os usuários do Sesc durante o SESC VERÃO 2008. Foram dois meses de treinos regulares com cerca de 30 alunos matriculados e o início de uma parceria fantástica. Novas oficinas foram criadas nas unidades Santana, Pinheiros, Av. Paulista, Itaquera e Pompéia. Participamos do Dia do Desafio e do Projeto Igual e Diferente. No SESC VERÃO 2009, baseado na teoria das múltiplas inteligências de Howard Gardner criamos, o AIKI CORE onde oficinas de Aikido se misturaram a oficinas de fotografia, poesia e desenho num exercício de sensibilidade e exploração.


No último final de semana conduzi uma nova oficina no Sesc Pompéia no projeto Ateliê Corpo-Arte. A idéia central é aproximar uma atividade física de uma atividade artistica. Inspirado no conceito Bun Bu Ryo Do ofereci uma rápida experiência dos princípios do Aikido e do Sumi-e. Um convite para acordar o guerreiro e o artista que todos somos. Foram seis horas de convívio divididos entre o uso da espada e o uso de pinceis, tintas e papéis. Agradeço a cada um dos alunos e, claro, toda turma do SESC que deu apoio para tudo acontecer.









Fotos: Daia Mistieri

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pais e filhos

No sábado teve almoço especial na casa dos meus pais: Cozido feito pela mãe.
No domingo teve jantar especial com Daia, meus filhos Danilo e Daniel e suas respectivas namoradas, Ornella e Julia num restaurante chinês maravilhoso: o Ton Hoi.
Hoje, segunda-feira, teve café da manhã especial pós-treino no Dojo. Um tipo de drible na pressa paulistana trazendo um pouco de prosa e afeto para o começo da semana.

Começo assim o dia 10 de agosto inspirado e orgulhoso pelo sangue familiar e devo aos que lêem este blog uma mensagem menos furiosa que a última. Estico uma linha de tempo e colo abaixo a imagem do meu avô Francisco Bueno, que não conheci, cercado pelos filhos e netos. Meu avô Justiniano Rocha Marinho, que também não conheci, com minha querida avó Noemi. Um close de meu pai em foto recente. Em seguida algumas imagens do jantar de ontem à noite com meus filhos. Melhor que as ostras de cananéia, o wantan incomparável, as costelinhas agridoces e o macarrão shopsuey frito compartilhado em família foi ler e reler a carta escrita pelo Daniel. As palavras que me emocionaram ontem estão na última imagem por aqui. Aproveito e torno público o privilégio que sinto em pertencer ao rio dos Marinhos e dos Buenos que segue seu curso com meus filhos criando suas próprias vidas.








segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Escala pentatônica

Cada vez mais acredito que todos temos todos recursos para expressar toda sabedoria. Se não somos esta sabedoria em expressão talvez nos falte alguém que nos mostre como. Este papel não é exclusivo de um mestre, de um coach ou de um terapeuta. Basta alguém amoroso que seja aquilo que fala, que goste de trabalhar no sentido japones que para mim traduz o melhor sentido de trabalho: hataraku, ou seja, tornar a vida do outro melhor. Bob McFerrin é mais que genial. É musica em um corpo. Curta o video que acabo de receber e cante com ele. Bruno, obrigado pelo presente!

World Science Festival 2009: Bobby McFerrin Demonstrates the Power of the Pentatonic Scale from World Science Festival on Vimeo.



Sobre Escala Pentatônica: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_pentatônica

sábado, 1 de agosto de 2009

De Rita para Roberto

Este blog tem sido o lugar onde compartilho as surpresas valiosas que encontro pela estrada. Afinal, quanto vale um tesouro guardado em um baú? Gosto de viver de olhos e ouvidos abertos e sempre encontro coisinhas brilhantes no meu caminho. Clarões, como o mestre Tião Rocha traduz os insights. Surgem em meio a conversas informais com amigos no Dojo, em cafés ou balcões de padaria. Chegam pela internet via twitter, email, facebook ou pela janela do carro. As vezes é uma simples frase inteligente, um link, uma foto ou um vídeo. Estímulos dourados que podem aparecer enquanto leio algum livro ou assistindo um filme no cinema. Percepções que renovam a minha visão sobre coisas pequenas do dia a dia ou sobre questões mais complexas.

Tenho experimentado um grande prazer em trazer algumas destas coisas para cá como quem arremessa ao mar mensagens escritas em garrafas na expectativa que algum dia alguém as encontrará. De todo modo, lidas ou não, aqui neste blog tenho sentido alegria em abrir meu baú para dividir meus tesouros. Recebi hoje este poema escrito pela amiga Rita Brant por ocasião da morte de Roberto Freire em 2008. Adorei e arremesso uma nova garrafa.

Vamos brincar? Roberto dizia

Ainda posso escutar

Se for pra rir, que se escancare

Se for pra pular, que se chegue à lua

Se for pra berrar, que se escute no Japão

Se for pra rolar, que seja como o pau do macarrão

Se for pra chorar, que se molhe o chão

Se for pra correr, que seja no meio da chuva

Se for pra abraçar, que seja de corpo colado

Se for pra beijar, que se sinta a alma dobrada

Se for comer, que se compartilhe até as migalhas

Se for pra beber, que se derrame na toalha

Se for para sonhar, então, que sejamos eternos

Se for para amar, que se liberte

Se for pra viver, meu amigo e companheiro...,

Que seja pra virar semente no coração de muita gente!

Homenagem ao querido Roberto Freire, de alguém que guarda a semente,

Rita Brant

Maio de 2008

De pai para filha



Conheci Christiaan Oyens treinando no Círculo de Aikido em Ipanema. Este rapaz é um faixa-preta de primeira linha fora a simpatia e a doçura. Ao lado de Billy Brandão e Adriana Maciel, Christiaan faz parte dos talentosos músicos alunos de Luis Gentil Sensei. Recebi este vídeo via Facebook e aos poucos estou conhecendo melhor o seu trabalho. Adorei a delicadeza da composição feita de um pai para uma filha.

É mais uma evidência de que música deveria fazer parte da formação de um faixa-preta. Ritmo, harmonia e criação são coisas que pertencem ao mundo do Aikido e ao mundo da Música. Qualquer dia eu escrevo por aqui as coisas que penso que devem fazem fazer parte da formação de um faixa-preta em harmonia. Música com certeza.