quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ilusão de ótica

Responda rápido: o que você está vendo?

Pois é. Depois de deixar meu carro na garagem por um mês, tenho adotado a prática de estudar o roteiro dos meus destinos antes de sair de casa. E faço um certo plano que inclui de tudo um pouco. Outro dia fui do Butantã para uma reunião no Hub de bicicleta. O Hub fica na Bela Cintra, do lado centro, na altura do cemitério da Consolação. Sai de lá no fim do dia e tinha um compromisso no SENAC da rua Dr. Vila Nova no centro. Chovia uma chuva fina e já era noite. Estacionei a bicicleta no Estapar do Colégio São Luis, um dos muitos bicicletários gratuitos que tenho mapeado pela cidade. Desci para o centro de onibus em 5 minutos, o mesmo tempo da volta uma hora mais tarde. Voltei a pegar a bike para descer para o Dojo, já sem chuva. Um prazer especial deslizar por uma avenida Rebouças sem muito transito. Por fim, voltei para casa de carona com Daia que passou por lá ao final do treino das 20h e deixei a bike estacionada no Dojo.

Tem sido assim. Um pouco de metrô, bicicleta, caminhadas, onibus, trem, caronas e também, por que não? o uso do carro como uma das alternativas. Não mais a única. E nesse mover pela cidade é claro que piso em calçadas detonadas. Minha sensação é que, fora a rua Oscar Freire, todas calçadas em São Paulo são zoadas. É um chão de ninguém. Ninguém arruma. Alguém vai lá faz um conserto, uma obra, abre um buraco, mexe e depois deixa lá do jeito que ficou. As ruas também não ficam atrás. Em cima de uma bicicleta os buracos e irregularidades da pista ficam 10 vezes maiores e não dá para cochilar. Como nas calçadas, vai tudo muito bem até que topamos com uma cratera. Ou várias. Tudo isso é bom para desenvolver a atenção. Não dá para andar e ficar falando no celular, pensando na vida e desligado do mundo. Tem que olhar com vontade, ficar esperto para não vacilar. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e ausência de atenção é sinônimo de perigo.

A foto acima é na recepção de uma empresa. Uma empresa para quem prestei serviços em parceria com a Bernhoeft, digo Höft Consultoria. Cheguei lá de trem, vindo da Estação Berrini. Uma rápida (e rara) caminhada pela Marginal Pinheiros e logo estava na empresa onde a recepcionista educada me pediu para aguardar no ambiente ao lado com poltronas vermelhas. Relaxei e caminhava em direção às janelas para observar a vista antes de sentar e ...%#@&%!$#$!*&$%#&@!!!! Enfiei a canela numa mesa que apareceu do nada e por sorte não caio de barriga no tampo de vidro preto apoiado na mesa preta sobre o chão preto! Preto brilhante para piorar. Três pessoas estavam sentadas logo em frente, possivelmente preparando coisas para alguma reunião em seguida, e manifestaram um estranho apoio: - Deve ter doído ... E voltaram a conversar entre si. Eu só queria gelo. Lembrei que a canela é o lugar mais desprotegido do corpo. É pele e logo osso. Não tem nenhum recheio que amorteça uma canelada... Ficou amarelo e vermelho na hora. Logo ficou roxo e inchado. Tudo que eu queria era gelo e que trocassem a mesa da recepção. Branca de preferência. Imaginei o que poderia acontecer se fosse uma pessoa idosa. digo, mais idosa. Depois de alguma burocracia para ir para o ambulatório, recebi enorme atenção de todos da empresa. Em especial da Michele, do Felipe, da equipe do ambulatório e de um bombeiro que não sei o nome. Tudo aconteceu em um prédio recém-inaugurado, com muitos ajustes sendo feitos na instalação em novo ambiente. No fundo, é natural que ocorra acidentes pequenos assim. É como machucado de sapato novo.

A curiosidade: me machuquei no momento que relaxei minha atenção. Na rua, entre buracos, lombadas, irregularidades no piso, gente e carro para todo lado e ruídos em geral talvez seja mais seguro que num lugar limpo, silencioso, iluminado, onde não é preciso estar 100 % presente. Sai de lá caminhando, agradecido pelo prestatividade de todos, e seguro em voltar para a rua.



5 comentários:

Maia disse...

Realmente faltou um contraste aí!
Qual o valor da indenizacão? rsrsrs
Bjos

Daia Mistieri disse...

Não digo indenização. Prédio novo, ainda estão fazendo adaptações e com certeza o susto que levaram e a mobilização que você provocou são suficientes para que isso não volte a acontecer.

Lamento muito, muito que sejam tão burocráticos para primeiros socorros...

Beijokas

Daia

Unknown disse...

Zé, isso é Seinfeld puro!
Se desenvolvesse um processo de indenização então...
Não pude deixar de rir muito com a foto.
Não como o fato, claro.

beijos
marinhos

José Bueno disse...

Noemï querida
Vc sabe que é um prazer saber que minha irmã está aí do outro lado. Se escrevo e gosto de escrever isso é coisa dos Marinhos que vc representa tão bem. No fundo quero escrever como vc!
Bom, nem passa pela cabeça indenização pois é uma empresa cliente e como a Daia falou, o susto que tomaram foi suficiente e perceberam o perigo de uma mesa camuflada. Já devem ter dado um jeito na danada. Espero.

Rodolfo Rezende disse...

Zé... não enxerguei a mesa também, só depois q li o texto. Ja passei pelo mesma história, só que estava carregado de coisas e tomei um tombo homérico, pois em cima da hora desviei... Teria sido melhor (acho) ter batido a perna... Os textos do seu blog estão ótimos. Saudades.